Tina Revolti construiu uma trajetória que une técnica, sensibilidade e propósito, tornando-se uma referência no cuidado que integra corpo e mente. Fisioterapeuta, com pós-graduação em Medicina Chinesa pela ABACO Salvador, ela atua a partir de uma visão ampliada da saúde, combinando os recursos da Medicina Tradicional Chinesa com a fisioterapia para promover equilíbrio e bem-estar.
Vamos conhecê-la mais de perto e nos inspirar:
O que te levou a escolher o caminho do cuidado como missão de vida?
Minha missão com o cuidado nasceu da vontade de contribuir. Sempre gostei de ajudar as pessoas, talvez justamente porque, na minha própria história, esse apoio quase não existiu. Durante todo o período em que fui mãe solteira, tive apenas uma vizinha – ela e a filha – que realmente me ajudaram. Ela cuidava dos meus filhos para que eu pudesse ir à escola, ao mercado, resolver minhas coisas. Isso foi essencial. Graças a ela, consegui estudar, já que nem minha mãe nem o pai das crianças ficavam com eles. Ela sempre dizia: ‘Vá estudar, eu fico com seus filhos.’ Em troca, o filho dela era menor e estudava à noite, então eu o levava comigo para a escola. Esse gesto de apoio mútuo marcou profundamente minha vida.
Depois disso, fiz voluntariado na Pastoral da Criança e convivi com muitas mulheres em situação de grande vulnerabilidade. Havia muita necessidade. Em um desses casos, uma adolescente que havia acabado de ter um bebê decidiu que eu seria a mãe da criança. Ela abriu a porta da minha casa enquanto eu estava no mercado e deixou o menino na minha cama. Conseguimos encontrá-la depois, acompanhamos o processo, garantimos que ela ficasse com o bebê até ele desmamar e, em seguida, encaminhamos a criança para uma família que pudesse cuidar. Demos a ele o nome de Jonathan. Eu, sozinha e sem condições, não tinha como assumir.
Acho que tudo começou aí: da minha própria carência e da percepção da necessidade de tantas mulheres ao meu redor. Sempre tive afinidade com a área da saúde e sentia que, se eu me formasse nesse campo, poderia contribuir muito mais com a sociedade e com as famílias do que em qualquer outra área.
Como a sua trajetória em ser mulher atravessa a profissional que você se tornou?
A minha trajetória como mulher foi o que formou a profissional que sou hoje. A mulher que me tornei moldou a profissional, e uma dimensão alimentou a outra. Isso me fez chegar até aqui. Tenho muito orgulho do que faço, de como faço e de para quem faço. Tenho consciência do bem que entrego e é um bem que também me faz bem. Isso me deixa verdadeiramente feliz.
Fui uma mulher que precisou atravessar barreiras e quebrar paradigmas. Fui a primeira da família a me separar, a estudar e ter um diploma, a dizer ‘não’, a afirmar ‘não quero que seja assim’. Rompi padrões, desfaço memórias antigas e abro novos caminhos. Acredito que isso ainda fará grande diferença na minha família. Sinto que honro minhas ancestrais quando faço o que faço.
Tornar-me a mulher que sou não foi simples. Houve dor, porque muitas mulheres também se afastaram de mim. Algumas não compreendem quem eu sou, não aceitam, julgam – e isso ainda cria barreiras. Por outro lado, muitas outras passaram a me ver como referência. Há adolescentes que eduquei sobre o que é ser mulher e que hoje me mandam mensagens dizendo: ‘Escolhi isso pensando em tudo o que você representou para mim.’ Receber isso é imensamente gratificante.
Quais desafios você encontra ao cuidar de outras pessoas enquanto também precisa cuidar de si?
Os desafios que encontro ao cuidar de outras pessoas e, ao mesmo tempo, precisar de cuidado, passam principalmente por fazer o outro perceber que eu também estou nesse processo. Que, além de profissional, sou uma mulher com necessidades, alguém que também busca cura, acolhimento e orientação. Muitas vezes isso é confuso para quem está do outro lado, porque tendem a nos ver como heróis – pessoas que não adoecem, não precisam de apoio, não têm fragilidades. É curioso perceber como acham estranho, por exemplo, um profissional da saúde precisar de outro profissional da saúde, como se isso não fizesse sentido.
As pessoas nos enxergam como figuras acima da própria condição humana, e o desafio está em mostrar que somos iguais. Eu acolho, guio e cuido, mas também preciso ser acolhida, guiada e cuidada. Assim como todo mundo, busco médicos, terapias, acompanhamento e suporte. Todos nós precisamos disso, independentemente da profissão. Somos seres humanos, não máquinas. Também somos frágeis, magoados, feridos, em constante processo de cura. Levamos nossas experiências de vida para apoiar outras pessoas, mostrando que, se conseguimos atravessar algo, elas também conseguem- ainda que seus caminhos possam ser diferentes e mais difíceis. A escolha de como viver cada situação faz muita diferença.
Outro desafio é ocupar esse lugar de modelo e inspiração. Estar nesse papel exige mostrar, o tempo todo, a importância de cuidar da saúde física, mental, emocional e espiritual. E, ao mesmo tempo, lidar com o fato de que não estamos bem todos os dias. Isso faz parte do movimento da vida: hoje estamos bem, amanhã nem tanto; é o corpo e a existência seguindo seu fluxo.
Ser vista como exemplo é um desafio diário. Reconheço isso, mas não me cobro excessivamente para corresponder a essa imagem. Há quem compreenda essa postura com naturalidade e há quem julgue, e isso também faz parte. Esse é o desafio cotidiano: cuidar, ser cuidada, inspirar, admitir fragilidades e seguir, sabendo que tudo isso é vida.

O que mais te emociona no seu trabalho?
Essa pergunta é especialmente interessante, porque eu realmente sinto que faço a diferença quando alguém chega para mim e diz: ‘Há muito tempo eu não caminhava, não visitava minha filha, não carregava minha neta. Minha rotina era sentir dor, estar mal, chorar. E hoje, depois que decidi fazer atividade, me cuidar e ouvir o que você orienta, minha vida mudou.’
Esse tipo de retorno – o resultado que cada pessoa traz e, principalmente, a permanência – é o que me mostra que vale a pena. Ouvir isso dá ânimo. É como combustível para o dia seguinte. Ver o quanto confiam no meu trabalho é muito significativo. Ter pessoas comigo há 10, 11 anos é a maior prova de que estou fazendo diferença na vida delas.
É algo que me deixa profundamente feliz. Sei que muitas pessoas vão passar por mim e que nem todas terão o mesmo resultado, porque cada uma busca algo diferente – e talvez eu não seja o caminho para todas. Mas é na alegria das minhas alunas, clientes e pacientes que encontro sentido: ouvir que estão bem, que melhoraram, que retomaram suas vidas.
E tem também o carinho do dia a dia – quem chega com uma banana, com um ovo, com um café da manhã. Essa troca é profundamente gratificante. Eu valorizo muito isso.
Como você acredita que o autoconhecimento e a saúde mental podem transformar a vida das mulheres?

O autoconhecimento, para mim, é a base da saúde mental. Quando eu aceito e acolho quem sou, à medida que vou me conhecendo, me descobrindo e me permitindo reconhecer meu verdadeiro eu – em todas as fases da vida – começo também a acolher cada momento. Vivemos ciclos, vivemos mudanças, e é importante aceitar o estado em que estamos, saber a hora de se despedir de algo e a hora de acolher o novo. Isso, para mim, é parte fundamental da saúde mental. Quando não acolhemos quem somos, nossa saúde mental se abala: começamos a rejeitar nosso corpo, nossa essência, nosso amor-próprio; passamos a nos julgar e a manifestar tudo o que nos faz mal. Por isso, considero a saúde mental essencial, e a base dela é o autoconhecimento e a aceitação de quem se é, do jeito que se é. Claro que, se existe algo que pode ser melhorado, que seja. Ame-se por isso. Seja capaz de transformar o que sabe que pode transformar – não para o outro, mas para você.
Quando você se manifesta com a verdade e a sensibilidade que te habitam, o que sente que se transforma ao seu redor?
Quando manifesto a verdadeira pessoa que existe em mim, sinto que estou o tempo todo expressando quem realmente sou. Caso contrário, não seria eu. Não consigo usar máscaras, disfarçar ou fingir empatia onde ela não existe. Ser verdadeiramente eu é uma regra para a minha vida. Viver, para mim, é ser autêntica. Não há espaço para ser outra pessoa. Preciso defender essa autenticidade e esse lugar que é meu, porque isso é importante para mim. Ser eu – mesmo que às vezes incomode, transforme ou contribua de maneiras que nem sempre são confortáveis – é fundamental. Por isso acredito que não devemos usar máscaras nem filtros, mas sermos sempre nós mesmas. Isso torna a vida mais leve. Ser eu mesma torna a minha vida muito mais leve e muito mais verdadeira.

