LILIANE (1)

Liderança com Alma: a caminhada extraordinária de Liliane Cavalcante

Liliane Cavalcante é a prova de que liderança se constrói com coração, presença e respeito. Aos 44 anos, muito bem-casada ( como gosta de frisar) e apaixonada pela vida, ela inspira quem está ao seu redor a se conectar com o melhor de si. Entre família, pessoas e cada gesto cotidiano, Liliane mostra que liderar é cultivar cuidado, autenticidade e simplicidade. Vamos conhecer melhor essa mulher inspiradora: 

Conte um pouco da sua trajetória como líder:

Primeiramente, quero agradecer a oportunidade de estar aqui contando um pouquinho da minha trajetória como líder. Ainda não me sinto plenamente uma líder; estou construindo meu caminho e aprendendo a cada passo, e pretendo continuar aprendendo o quanto for possível.

Acredito que minha trajetória começou de verdade com meu primeiro emprego, numa empresa de contabilidade. Desde cedo, tive a responsabilidade de cuidar da contabilidade, mesmo com apenas 17 anos. Meus chefes viajavam e me deixavam encarregada de tudo, e eu tratava aquele espaço com todo cuidado e respeito, como se fosse meu. Foi ali, nesse primeiro emprego formal, que comecei a desenvolver senso de responsabilidade e liderança.

Depois desse período de  quatro anos em que trabalhei nesse espaço- sempre assumindo grandes responsabilidades, fui para outra empresa, a Tegra, em Lauro de Freitas. Saí de uma contabilidade pequena, em que lidava diretamente com os donos das empresas, para um lugar onde passei a trabalhar no RH com 150 funcionários.

Uma das primeiras coisas que percebi lá foi uma restrição na porta da minha sala: só os funcionários do RH podiam entrar. Logo senti que precisava mudar isso. Com toda ousadia, pedi para tirar a placa e garantir que minha sala fosse um espaço aberto, onde qualquer funcionário pudesse se sentir à vontade para conversar, trocar ideias ou compartilhar qualquer situação. Queria que todos se sentissem acolhidos e que eu estivesse disponível para eles.

Trabalhei três anos lá e criei vínculos tão fortes com os funcionários que eles vinham falar comigo tanto sobre questões profissionais quanto pessoais. Foi um período muito especial, onde me senti cuidada e valorizada, até nos momentos em que estava doente. Tinha um carinho recíproco tão grande que até hoje sinto uma saudade enorme desse trabalho. Então, depois desse trabalho, vim para a Associação Paulo Tonucci. Comecei atuando no RH e Departamento Pessoal de forma formal, com carteira assinada, e também no “Faz Tudo” em outras áreas, já que, em uma instituição sem fins lucrativos, a gente acaba fazendo um pouco de tudo.

Com o tempo, passei a trabalhar na coordenação executiva, participando do planejamento estratégico. Em determinado momento, surgiu a necessidade de ter uma coordenadora geral, alguém que pudesse acompanhar o todo, ouvir a equipe e integrar as diferentes áreas. Acharam que eu era a pessoa indicada para assumir esse papel, e aceitei. Estou nessa função há 18 anos.

No começo, confesso que senti muito medo. Mesmo tendo liberdade para tomar decisões dentro do meu trabalho, ainda não me sentia, de fato, uma líder. Muitas vezes pensei em desistir, principalmente nos primeiros meses e anos. A função exige firmeza, e eu sempre me percebi mais voltada ao cuidado com o outro do que à imposição de autoridade.

Tenho uma preocupação constante em não machucar ninguém com minhas ações ou palavras. Sei que, às vezes, precisamos ser firmes e fortes, mas meu foco sempre foi agir com cuidado e empatia. Não sei se esse é o perfil ideal de líder, mas faço o meu melhor todos os dias, buscando equilibrar firmeza com cuidado, e é assim que construo minha trajetória.

Qual foi o maior desafio que te transformou na mulher e na profissional que você é hoje?

Sem dúvida, sempre foi esse meu jeito de ser muito cuidadosa, de me colocar no lugar do outro. Às vezes, por ser assim, sinto que sou interpretada de forma equivocada. Gosto muito de ser verdadeira, de falar a verdade quando necessário, e isso, por vezes, se torna um desafio.

Lidar com o outro é complexo: entender o que se passa na cabeça das pessoas em relação a você é difícil. Para mim, isso é uma preocupação constante. Por ser verdadeira, me machuca quando sinto que o outro não está sendo honesto comigo. Dentro da empresa, esse desafio se torna ainda maior, porque é preciso cuidar de tudo e de todos, estar atenta a cada situação, equilibrando responsabilidade e sensibilidade.

Ainda estou aprendendo a cada dia. Faço leituras, estudo, escuto outras pessoas, tentando compreender o que significa ser uma líder de verdade, competente e capaz de atender às necessidades da equipe. Tento sempre dar o meu melhor, buscando o melhor para mim e para todos ao meu redor. É assim que procuro trabalhar na Associação Paulo Tonucci, garantindo que a equipe esteja bem e possa também dar o seu melhor, mesmo diante de tantos desafios do dia a dia.

Que conselho você daria para outras mulheres que sonham em liderar, mas ainda duvidam do próprio poder?

Será que estou apta a dar conselhos para uma mulher que sonhe em liderar? Não sei, mas vou compartilhar o que penso. Liderar, para mim, é se colocar no lugar do outro, respeitar, e nunca ver o outro como um servo. Liderar não é ser servido, é também servir.

É pensar em tudo isso para que a instituição, a associação ou a equipe funcione bem. Esse é o conselho que tento seguir na prática. Claro que é preciso ter firmeza e força, mas sempre com muito respeito pelo ser humano que você está liderando. Acho que é mais ou menos assim que vejo a liderança: um equilíbrio entre cuidado, respeito e responsabilidade.

Como você equilibra resultados e humanidade na forma de liderar?

Ainda estou galgando, como disse antes, passo a passo, aprendendo a cada dia e tentando equilibrar minha forma de liderar com melhores resultados, especialmente onde atuo hoje como coordenadora geral. Acredito que liderança é ter firmeza, acreditar no que se faz, respeitar o outro e ser o mais democrática possível sempre que possível.

Sei que nem sempre dá para evitar a hierarquia, que é necessária para que as coisas funcionem. Quando algo precisava ser feito e ninguém fez, alguém tinha que assumir a responsabilidade. Mas acredito que isso deve ser sempre feito com respeito. Colocar-se no lugar do outro é fundamental, não só no ambiente de trabalho, mas também na família e em qualquer espaço de convivência humana.

O que significa, para você, fazer parte de uma geração de mulheres que estão mudando o mundo do trabalho?

Fazer parte de uma geração de mulheres no mundo do trabalho, para mim, é fundamental. É vida. Eu venho de um período em que minha mãe era dona de casa, dedicada apenas ao lar, e eu nem imaginava que ela um dia pudesse trabalhar fora.

Já eu, aos dez anos, precisei começar a ajudar minha família. Não defendo o trabalho infantil, mas minha realidade era diferente: meu pai nos abandonou, e todos precisávamos sobreviver. Nessa época, eu cuidava de crianças, fazia unhas, ajudava em casa – ainda que muito mal, por sinal – e já tinha curiosidade por digitação e informática. Eu nunca fiz datilografia; fui direto para o computador.

Para ajudar minha mãe e minhas irmãs, eu precisava trabalhar. Chegava da escola e já ia fazer unhas para minhas coleguinhas ou ajudar no salão da minha tia, ganhando gorjetas. Gostava de fazer doces e bolos para vender, e, com 12 anos, antes mesmo de completar 17, já cuidava das filhas de uma família em trabalho remunerado.

Depois fui para Salvador trabalhar, inicialmente como faxineira, mas a mulher para quem eu trabalhava percebeu meu interesse e habilidade com informática. Pagou um curso para mim e, a partir daí, comecei a aprender mais, ganhando experiência com computadores, digitando e fazendo pequenas impressões. Desde cedo, sempre fui muito empreendedora, buscando maneiras de aprender, ajudar e ganhar meu próprio dinheiro. Para mim, fazer parte dessa geração de mulheres significa ter a oportunidade de construir o próprio destino, transformar a própria realidade em uma força maior e, especialmente, estar no mundo do trabalho ao lado de outras mulheres, contribuindo para tornar esse mundo ainda melhor.

Quando você se manifesta, com voz, atitude e propósito, o que sente que se transforma ao seu redor? E de que forma gostaria que isso inspirasse outras mulheres?

Eu fico muito feliz, grata e me sinto respeitada quando ouço mulheres lindas, maravilhosas, empreendedoras e lideranças natas dizendo que admiram meu trabalho. Isso é emocionante para mim, especialmente porque, muitas vezes, eu mesma não acredito totalmente no meu potencial. Há dias em que me sinto em alta, outros em que me sinto em baixa, e às vezes dá vontade de desistir.

Mas quando mulheres vêm até mim pedindo conselhos ou ajuda, fico profundamente realizada. Esses momentos me lembram do valor do que construí e me motivam a seguir aprendendo todos os dias, subindo degrau por degrau na minha vida profissional e na forma de liderar.

Sinto-me pertencente a um trabalho que muitas pessoas observam, acreditam e apoiam. Esses retornos me lisonjeiam e me inspiram a, de alguma forma, inspirar outras mulheres: a acreditar em si mesmas, a colocar a positividade à frente, mesmo nos dias mais difíceis, e a unir forças entre nós e conosco mesmas.

Aprender, estudar e ler muito faz parte desse processo. Estou em um momento de ampliar horizontes, lendo de tudo, buscando conhecimento em diferentes áreas e convivendo com mulheres inspiradoras.

Quero parabenizar todas essas mulheres incríveis e agradecer de coração pelo convite para compartilhar um pouco da minha história e trajetória. Muito obrigada!

Foto de Manifesta Feminina

Manifesta Feminina

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