Sinha Guimarães encontrou na dança sua forma de existir no mundo. Bailarina internacional, formada em Licenciatura e Bacharelado em Dança pela UFBA, pós-graduada em Estudos Contemporâneos em Dança e mestranda na mesma instituição, ela transforma movimento em força, política e presença. Gestora da Escola de Dança Centro do Movimento, coreógrafa da Cia Sinha Guimarães e idealizadora de projetos como Dance Verão Camaçari, Surdos que Dançam e Crianças do Coração, Sinha é uma artista que rompe limites e amplia horizontes.
Como uma boa ariana, Sinha desafia tudo o que tenta reduzi-la, e inspira outras mulheres a fazerem o mesmo. Em sua presença, a arte é resistência, é futuro, é afirmação de vida. E é dessa trajetória intensa, política e profundamente transformadora que ela fala nesta entrevista. Vem Ver:
Como a arte entrou na sua vida e o que ela representa para você hoje?
A minha trajetória com a arte começou aos 6 anos, quando participei de uma das turmas da SEDEL, no início da década de 90. Mas nada disso seria possível se eu não tivesse o apoio dos meus pais, que mesmo diante de algumas dificuldades, sempre acreditaram em mim. Desde então, as coisas foram evoluindo. Aos 14 anos comecei a dar aulas e também com essa idade entrei para uma companhia de dança. Costumo dizer que a arte me constitui e não consigo me imaginar fora desse universo.
De onde vem a inspiração que move o seu processo criativo?
O meu processo criativo surge de maneira muito orgânica, a partir de muita observação daquilo que me cerca. Gosto muito de ficar por dentro do que está acontecendo no cotidiano, os assuntos que mais mobilizam a sociedade, e assim, procuro traduzi-los em movimento.

Quais temas, emoções ou vivências femininas mais atravessam a sua arte?
O racismo, o feminismo, o capacitismo, a misoginia e todos esses assuntos que perpassam pela minha condição de mulher preta, com deficiência numa sociedade extremamente patriarcal, carregada de tantas limitações que nos atingem e tentam nos impor, dia após dia.
Qual foi o momento em que você percebeu o poder transformador da sua arte (em você e nas pessoas ao redor)?
Com o Centro do Movimento. Esse projeto que veio a partir do sonho de construir um espaço que propiciasse a difusão da dança em Camaçari. Quando vejo a evolução das pessoas que estão ali, desde os pequeninos até os adultos, tenho a certeza de que está havendo uma quebra de paradigmas e de que existe um propósito que está sendo posto em prática.
Como é, pra você, ser uma mulher artista num mundo que ainda tenta nos limitar?
É um pouco do que eu disse na segunda pergunta. Por mais que tentem nos impor limitações, e digam que nós não podemos, mais aumenta o meu ímpeto de provar que nós somos potentes e podemos fazer o que quisermos. Como uma boa ariana, quanto maior o desafio, vou ter mais sangue no olho pra superá-lo.
Quando você se manifesta através da arte, o que sente que desperta no coletivo e nas outras mulheres?
É complicado falar sobre como o outro se sente, mas o que eu consigo perceber é um olhar de muita empatia, sororidade e enaltecimento, principalmente vindo de outras mulheres. Fico muito feliz e lisonjeada por esse olhar, porque eu sei que nossa cidade é repleta de outras potências, e independente da área de atuação, acredito que a gente se reconheça umas nas outras durante esse processo.


