Elba Coelho reúne, em sua trajetória, a combinação rara entre liderança sensível e excelência técnica. Casada com Danilo e mãe de Dan Lucca e Amarena, ela se apresenta como uma virginiana que enxerga o mundo com amor, humanidade e empatia – uma visão que também orienta sua atuação profissional. Formada em Relações Públicas, com MBA em Comunicação Corporativa e Marketing de Varejo (em andamento), Elba soma mais de 20 anos de experiência em Comunicação e Marketing. Ao longo desse percurso, construiu uma carreira marcada por consistência, cuidado e presença. E, embora movida por grandes desafios, é na revisão de textos que encontra sua verdadeira paixão: o espaço onde o rigor se encontra com a delicadeza da palavra. É dessa liderança, feita de luz, propósito e autenticidade, que ela fala nesta entrevista.
Como começou a sua trajetória como líder?
Minha trajetória como líder começou ainda na infância. Eu sempre fui a criança que organizava as amigas, que conduzia os grupos da escola, que tomava a frente, puxava todo mundo junto, motivava e tinha as ideias do que fazer. Esse papel também se repetia em casa, na família. Desde cedo eu assumia a condução das coisas de forma muito natural.
Com o tempo, esse impulso de liderança foi se aperfeiçoando ao longo da vida. Mais tarde, com maturidade e compreensão, passei a aplicar isso também no campo profissional. O curioso é que, por muito tempo, eu não me reconhecia como líder. Era algo tão orgânico para mim que eu não tinha consciência dessa característica.
Só no ambiente profissional percebi que todas aquelas vivências – da infância até ali – tinham me preparado e me conduzido para esse lugar de liderança
Qual foi o maior desafio que te transformou na mulher e na profissional que você é hoje?

Passei por diversos desafios que me transformaram na mulher que sou hoje, sobretudo no âmbito familiar e religioso. Mas, na vida profissional, destaco dois desafios essenciais, que marcaram profundamente minha trajetória. Foram experiências das quais me orgulho e que, para mim, funcionaram como verdadeiros divisores de águas. Tenho convicção de que um me preparou para o outro.
O primeiro aconteceu quando entrei como estagiária na Cidade do Saber, em Camaçari, um projeto pelo qual tenho enorme carinho até hoje. Ali, aprendi muito, vivi experiências intensas enquanto ainda estudava, cumpri dois anos de estágio e, depois, fui contratada como técnica de comunicação. Com o tempo, fui crescendo dentro da instituição até que minha gestora decidiu sair e me indicou para assumir a chefia do setor – a assessoria de comunicação daquele complexo gigantesco, com milhares de alunos e uma equipe altamente qualificada.
Foi uma surpresa imensa. Como eu disse, a liderança sempre foi natural para mim, mas eu não me percebia como líder e nunca busquei essa posição. Assumir aquele cargo não era algo que eu imaginava. No início, senti medo, mas logo percebi que já estava preparada. Minha gestora anterior me formou muito bem, a equipe era excelente e conseguimos dar continuidade a um trabalho lindo. Permaneci ali por dez anos, até que o projeto foi interrompido por questões políticas.
Depois disso, vieram outras experiências, até que fui convidada para integrar a equipe de marketing do Boulevard Shopping Camaçari. No começo, também me assustei, porque era um universo totalmente diferente de tudo o que vivi por uma década. Mas, logo nos primeiros dias, percebi o quanto a Cidade do Saber tinha me capacitado para estar ali. A vivência no shopping também trouxe muito aprendizado. A transição – de um complexo educacional voltado para políticas públicas para um ambiente mercadológico, orientado por resultados e fluxo de pessoas – exigiu uma nova postura, mas também me permitiu unir meus conhecimentos sobre pessoas, comunidade, eventos e humanização, áreas em que gosto de atuar.
No shopping, ocorreu novamente um movimento de crescimento. Entrei como analista; com a pandemia, tornei-me coordenadora e, logo depois, gerente. Foi um ciclo intenso e muito significativo.
Essas duas trajetórias, vividas em instituições tão grandes e tão distintas, me fizeram reconhecer quem sou como profissional e líder. Essa evolução dentro de espaços tão complexos e desafiadores me deixa profundamente orgulhosa.
Que conselho você daria para outras mulheres que sonham em liderar, mas ainda duvidam do próprio poder?

Eu acredito que o principal conselho para quem sonha em liderar, mas duvida de si ou escuta palavras que desmotivam, é a velha máxima que nunca perde o sentido: acredite em si. O primeiro passo é confiar na própria capacidade.
Se você estudou, se se preparou, se tem base e gosta do que faz, ninguém poderá dizer que você não é capaz. A partir do momento em que você decide ocupar esse lugar, busca aperfeiçoamento e coloca suas habilidades em prática, você já está trilhando o caminho da liderança.
Por isso, o conselho central é esse: acreditar em si acima de qualquer coisa e acima de qualquer opinião alheia. É saber filtrar o que não contribui, seguir em frente e cercar-se de pessoas que fortalecem, apoiam e confirmam que você está na direção certa. Isso faz toda a diferença e é o que faz a magia acontecer.
O que significa, para você, fazer parte de uma geração de mulheres que estão mudando o mundo do trabalho?
Eu me sinto muito honrada em fazer parte de uma geração em que as mulheres têm mais voz. Ainda não somos reconhecidas como deveríamos, mas já conquistamos avanços significativos. Hoje vemos mulheres ocupando papéis, funções e cargos que antes eram exclusivamente masculinos. É muito gratificante viver esse momento, especialmente para mim, que tenho uma filha mulher.
Saber que ela crescerá em uma geração em que as mulheres são vistas, reconhecidas, lutam por seus direitos, se impõem e buscam seu espaço – sem aceitar menos do que merecem – me enche de esperança. É realmente uma honra e um privilégio poder testemunhar e participar desse tempo.

Quando você se manifesta, com voz, atitude e propósito, o que sente que se transforma ao seu redor? E de que forma gostaria que isso inspirasse outras mulheres?
Eu sinto que tenho valor. Sinto que sou admirada, respeitada e que alcancei um lugar de honra, presença e voz. Sinto também que estou contribuindo para uma transformação maior, que acontece no mundo inteiro.
Acredito que toda mulher deveria descobrir a luz que carrega dentro de si. Cada uma, dentro do que ama fazer e do espaço que ocupa, é capaz de brilhar — e de fazer outras mulheres brilharem também.
Nosso papel é dar as mãos: uma puxar a outra, uma levantar a outra. Essa lógica de disputa, criada e reforçada pela sociedade ao longo de gerações, precisa cair por terra. Devemos combater essa ideia e mostrar que uma mulher existe para apoiar outra mulher. Se for assim, seremos capazes de transformar o mundo.
Não podemos desistir. Já estivemos muito atrás, já vivemos tempos em que a mulher precisava obedecer pai, marido, irmão; em que não podia vestir o que queria, amar quem queria ou ser quem era. Superamos muito disso — e não podemos recuar. Chegamos longe demais para voltar atrás.
É seguir em frente, ocupar o pedestal da própria vida, sentir-se poderosa, firme, forte e capaz. É assim que eu me sinto cada vez que estou em um lugar de voz, sendo ouvida, percebida com credibilidade, com minha trajetória reconhecida.
E nada disso tem preço. Nada disso pode ser barganhado, desprezado ou desmerecido.
Então, vamos juntas. Porque, juntas, podemos chegar muito mais longe.


